Cirurgia Robótica no Século XXI

A história da Medicina se confunde com a história da Cirurgia. O livro “O Século dos Cirurgiões” descreve a saga dos pioneiros que formaram a base da Cirurgia moderna.

Técnicas operatórias para controle da hemorragia, anti-sepsia e a descoberta da anestesia, foram avanços singulares que possibilitaram a evolução cirúrgica até os dias atuais.

Em 16 de outubro de 1846 no hospital Geral de Massachusetts (Boston) foi realizada a demonstração da primeira cirurgia com anestesia, uma descoberta histórica que marcou em definitivo uma nova era da Medicina contemporânea. O Cirurgião John Warren ressecou um tumor cervical de um jovem com 20 anos, auxiliado por William Morton que utilizou a técnica de inalação do éter sulfúrico como agente anestésico.

Até então as cirurgias eram rápidas e limitadas pela dor. Após o domínio das técnicas anestésicas, os procedimentos aumentaram em número e complexidade mas ainda havia um problema a ser resolvido: A infeção e as altas taxas de mortalidade por sepse pós-operatória.

Robert Koch, Louis Pasteur, Joseph Lister e Ignaz Semmelweis foram os precursores da microbiologia e identificaram os germes causadores das infecções. Seus estudos foram fundamentais e mais um passo determinante na evolução da cirurgia moderna.

Durante as próximas décadas, centenas de técnicas cirúrgicas foram desenvolvidas e os primeiros transplantes de órgãos realizados com sucesso. Mas havia uma nova técnica cirúrgica que revolucionaria mais uma vez a Medicina: A Cirurgia Videolaparoscópica e o conceito de Cirurgia Minimamente invasiva. Foi o Cirurgião Francês Philippe Mouret que em 1987, passou para a história, realizando a primeira colecistectomia videolaparoscópica (retirada da vesícula biliar) através de um método inovador sem incisão.

A Cirurgia Videolaparoscópica pôs fim ao conceito de que grandes cirurgiões realizavam grandes incisões. A cirurgia Minimamente Invasiva passou a ser a nova ordem pois apresentava melhor resultado estético, funcional e menor custo, passando a ser o padrão ouro em muitos procedimentos cirúrgicos.

Em Porto Alegre no início da década de 90 a Cirurgia Videolaparoscópica começava a ser realizada em vários hospitais, vencendo um ceticismo inicial relacionado ao método que rompia com a forma tradicional de se operar com as mãos. Agora a cirurgia era realizada através de pequenos orifícios e a visualização do campo cirúrgico se dava de maneira indireta através de uma câmera de vídeo.

Hoje a Videolaparoscopia é um método extremamente difundido e tornou-se o padrão ouro para diversas cirurgias eletivas e de emergência. A nova geração de Cirurgiões tem seu treinamento focado em procedimentos minimamente invasivos que resultam em menor trauma cirúrgico, melhor resultado estético e funcional.

O avanços tecnológicos no início do Século XXI, trouxeram mais um passo para a evolução na técnica cirúrgica: A Cirurgia Robótica que agrega visão tridimensional do campo cirúrgico, pinças articuladas com maior liberdade de movimento, eliminação do “tremor biológico”, e maximização do conforto e ergometria do cirurgião, superando algumas limitações da técnica Videolaparoscópica. A Cirurgia Robótica passa a ser um procedimento com alto nível de segurança e precisão, minimizando sangramento e diminuindo a taxa de complicações pós-cirúrgicas. O Cirurgião opera sentado e comanda os braços robóticos através de um console instalado ao lado da mesa cirúrgica.

A empresa Intuitive Surgical fundada em 1995, fabrica os sistemas robóticos chamados “da Vinci” que estão presentes em mais de 66 países ao redor do mundo. Nos Estados Unidos atualmente há mais de 3.000 Robôs em atividade. No Brasil são 45 equipamentos, sendo os hospitais Albert Einstein, Sírio Libanês e Oswaldo Cruz os pioneiros na cirurgia robótica no país.

No sul do Brasil o Hospital de Clínicas de Porto Alegre iniciou seu programa de Cirurgia Robótica em 2013 contabilizando mais de 470 cirurgias realizadas por este método. O Hospital Moinhos de Vento criou seu núcleo de Cirugia Robótica em 2017 e hoje a quase totalidade de Cirurgias Robóticas (95%) neste serviço, são urológicas como a prostatectomia radical que apresenta potencial benefício pela menor taxa de impotência sexual e complicações devido a sangramentos.

A aquisição de novos sistemas robóticos e a diversificação de técnicas operatórias com a entrada de outras especialidades cirúrgicas, tornam fundamental a inclusão da Cirurgia Robótica na formação de Cirurgiões do Século XXI. Hospitais escolas de alta complexidade passam a incluir programas de treinamento para residentes e cirurgiões sêniors, utilizando simuladores de Cirurgia Robótica em seus currículos acadêmicos. Os simuladores aceleram a curva de aprendizado e desenvolvem habilidades psicomotoras e cognitivas necessárias para a realização de cirurgias seguras e eficientes.

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Recursos como realidade virtual tornam o ambiente de simulação extremamente imersivo, fazendo o treinamento em Cirurgia Robótica parecer um jogo (serious games). A Simulação em Cirurgia Robótica representa um novo método de ensino como o recurso da Gamificação, possibilitando a execução de procedimentos diversas vezes até que o aluno atinja progressivamente estágios de maior dificuldade, adquirindo proficiência e segurança na execução da cirurgia.

Os consoles de Cirurgia Robótica ainda tem um custo bastante elevado e somente uma empresa tem o domínio global de sua produção. A tendência com a entrada de novos players nesse mercado é a redução do valor dos equipamentos tornando a Cirurgia Robótica mais presente na formação das novas gerações de Cirurgiões. Os Robôs não operam sozinhos e a habilidade manual do cirurgião permanece sendo a arte e a essência da Cirurgia Robótica no Século XXI.

Por Luciano Eifler https://www.linkedin.com/pulse/cirurgia-rob%C3%B3tica-s%C3%A9culo-xxi-luciano-eifler

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