O Advanced Trauma Life Support (ATLS), nasceu nos EUA no final da década 70. Surgiu como consequência direta do reconhecimento do trauma como doença prevalente e de características epidêmicas. O programa se desenvolveu rapidamente na América do Norte e Canadá, em direção ao sul do continente americano.
O curso, que não envolve recursos complexos, está baseado num alto grau de sistematização do conhecimento que permite diagnosticar e tratar rapidamente a maior parte das lesões graves. Contudo, devemos lembrar que o trauma ainda produz muitas mortes preveníveis e necessita de prevenção.
Considerado o padrão ouro do atendimento ao trauma há quase 40 anos o ATLS se disseminou pelo mundo e, mesmo em países que resistem à cultura americana, particularmente na Europa, acabou rompendo a maior parte das barreiras para ser também adotado no velho continente.
No Brasil, o programa começou no início dos anos 90 e se consolidou no início dos anos 2000, com a formação de uma massa crítica capaz de multiplicar os cursos de formação em boa parte do território nacional.
O sucesso do modelo assistencial preconizado está baseado em alguns elementos que, talvez, não tenham sido todos previstos, mas que naturalmente foram incorporados durante seu desenvolvimento e aprimoramento.
Em primeiro lugar, foram definidos como padrão alguns procedimentos que já eram praticados de forma pouco sistematizada, dando ao profissional da emergência um norte científico a ser seguido, com base na literatura.
Isso levou, rapidamente, à construção de uma cultura diferenciada e de uma linguagem universal, próprias do atendimento ao trauma, que permitem não só o intercâmbio e a reprodução de experiências de sucesso, mas também a continuidade do atendimento à vítima traumatizada mesmo após sua remoção, transferência ou troca da equipe de plantão.
Outro ponto, é o fato de que o ABC do trauma mexe com procedimentos muito bem hierarquizados e que são, em sua maioria, simples, apreensíveis, de baixo custo, realizáveis mesmo em locais menos preparados e que estão centrados no treinamento do médico que assiste ao trauma.
O treinamento assistido e o condicionamento fazem parte das atividades de muitas profissões, mas até o surgimento do programa não tinham o mesmo significado na formação médica. Talvez a comparação mais ilustrativa que se possa fazer é o uso de horas e horas de simulação de voos como preparação para os pilotos de aeronaves. O impacto das atividades de simulação acabou sendo levado ao ensino universitário brasileiro, ainda que de forma precária e errática. O atual movimento de criação de centros de habilidades médicas que vive o país está inarredavelmente ligado ao ATLS.
Trabalhar com diretrizes bem definidas fez com que o sentimento de equipe passasse de uma atitude desejável a uma necessidade, um pré-requisito para um melhor atendimento, onde todos tem papel definido e devem estar igualmente treinados para executar sua função. A autoestima elevada da equipe se tornou fonte de melhores resultados e maior comprometimento com a recuperação do paciente.
A organização didática do programa, sua replicabilidade, a formação quase acadêmica exigida de educadores e instrutores, a obrigatoriedade de atualização, a reavaliação periódica e a exigência de um padrão ético de conduta, contribuíram para fazer do programa um processo educacional exitoso e evitar o crescente mercantilismo do ensino de uma forma geral.