TRAUMA NO IDOSO: É preciso entender

Átila Velho, TCBC, FACS, PhD

Epidemiologia

A população geriátrica cresceu substancialmente nas últimas décadas. Estatísticas americanas estimam que em 2030, 25% da população terá mais de 65 anos. Na Europa, estes dados já são uma realidade inconteste. No Brasil, na década de 50 eram 2 milhões de idosos, atingindo 6 milhões em 1975, 16 milhões em 2000 e estima-se que este número dobre até 2025.

Avanços médicos importantes no diagnóstico e tratamento de doenças crônicas têm permitido uma participação mais ativa do idoso na sociedade, realizando atividades que antes eram exclusivas dos mais jovens.

Entretanto, em decorrência dessa maior exposição, a incidência de trauma nesse grupo cresceu nos últimos 20 anos. Nos EUA, 15% dos pacientes triados em centros de trauma tem idade superior a 65 anos. Em centros de trauma europeus, esses números já estão em 25% das vítimas de trauma.

O trauma no idoso apresenta grande morbimortalidade e exige mais cuidados intensivos em sua hospitalização, isso eleva os custos hospitalares. Cerca de 30% dos custos hospitalares por trauma envolvem pacientes idosos.

 Alterações fisiológicas do envelhecimento

O processo de envelhecimento é complexo e irreversível, levando à deterioração progressiva da reserva funcional dos órgãos, até a morte. É sabido que essa deterioração natural é variável e específica para cada sistema orgânico, entendimento essencial para o atendimento ao trauma geriátrico.

O sistema cardiovascular é o mais afetado por este processo, com alterações degenerativas das fibras miocárdicas que reduzem a contratilidade e o ritmo, com consequente redução do débito cardíaco. Além disso, a doença aterosclerótica altera a relação entre oferta e demanda de oxigênio, acentuando a isquemia miocárdica em situações de stress traumático.

O arcabouço torácico se torna mais rígido, propenso a fraturas, mesmo em traumas menores. Há redução da complacência pulmonar, da população alveolar e do sistema muco-ciliar, resultando diminuição da reserva pulmonar.

No cérebro, ocorre degeneração e atrofia neuronal acarretando aumento do espaço intracraniano, permitindo maior mobilidade da massa encefálica com maior risco de lesão neurológica. Dessa forma, acúmulos de sangue podem ocorrer sem alterações na avaliação neurológica. Diminuição da acuidade visual e auditiva também são frequentes nesta fase. A prevalência de acidentes vasculares e quadros demenciais aumenta significativamente no idoso, tornando-o mais suscetível a acidentes.

O sistema musculoesquelético apresenta osteoporose e diminuição de massa muscular, que podem acarretar fraturas devidas a traumas menores.

O estresse físico e metabólico decorrente de um trauma de grandes proporções pode exaurir rapidamente as reservas funcionais dos diferentes sistemas, resultando em falência orgânica irreversível.

Mecanismos de trauma

Durante o atendimento do idoso traumatizado na sala de emergência é importante conhecer a cinemática e o mecanismo de lesão, bem como lembrar que por trás de um traumatismo há frequentemente uma comorbidade atuando como evento precipitante. As quedas, em geral de própria altura, representam o mecanismo prevalente.

Estudos demonstram que a proporção de óbitos por quedas em pacientes acima de 80 anos é tão significativa quanto a proporção de mortes por acidentes entre jovens de 18 a 20 anos.

Os acidentes automobilísticos respondem como segunda causa mais frequente, chegando a 15 ou 20% de todos os traumas nesta faixa etária. Geralmente são associados com transferência de energia cinética maior e, consequentemente, com lesões mais graves6. A redução na acuidade visual associada a reflexos mais lentos, colocam este grupo numa categoria de alto risco. Estudos mostram que apesar das medidas preventivas adotadas, e mesmo dirigindo distâncias menores, estes pacientes são mais propensos a acidentes, mesmo durante o dia, com tempo e clima favoráveis.

Os atropelamentos aparecem como a terceira causa mais frequente de trauma geriátrico e representam o mecanismo de lesão mais devastador, em função da multiplicidade de lesões que acarretam. A diminuição da visão periférica, atrofia muscular, artropatias degenerativas e a lentidão de reflexos tornam difícil a visão ampla da rodovia e a capacidade de se deslocar com rapidez.

A violência interpessoal está aumentando neste grupo etário e, em particular os ferimentos penetrantes, se associam com elevada mortalidade em pacientes com mais 65 anos, havendo 2 vezes mais mortes nos ferimentos por arma branca e 4 vezes mais mortes para ferimentos por arma de fogo.

Além disso, devemos lembrar que traumatismos recorrentes são bastante frequentes em idosos.

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